Declaração da Via Campesina no
Fórum Alternativo Mundial da Água
22/03/2012
Via Campesina
Nós, organizações camponesas de
diferentes países do mundo, membros da Via Campesina, reunidos de 12 a 17 de
março de 2012, no Fórum Alternativo Mundial da Água, em Marselha, França,
representados por delegados vindos da Turquia, Brasil, Bangladesh, Madagascar,
Portugal, Itália, França e México, expressamos a nossa solidariedade aos
afetados por catástrofes ambientais e, especialmente, aos que são vítimas da
construção de represas, dos gases de xisto, da apropriação, da mercantilização
e da escassez da água, das contaminações generalizadas, das repressões e dos
assassinatos levados à prática contra os militantes defensores da água.
Reivindicamos que o direito pela
água seja respeitado, dentro do princípio regulador da soberania alimentar. O
direito à água é o respeito permanente ao ciclo da água, tomado integralmente.
Afirmamos que a privatização e a mercantilização da água e de todo outro bem
comum (sementes, terra, conhecimentos locais e tradicionais, etc.) são um crime
contra a terra e a humanidade. Os grandes projetos de represas e de centrais
hidroelétricas aprisionam e se apropriam da água, não tendo em conta nem
necessidades, nem práticas tradicionais, nem a opinião das comunidades locais,
além de debocharem da preservação do ecossistema.
As crises da água, da
biodiversidade, as crises sociais, energéticas e financeiras encontram-se todas
juntas e são as consequências do neoliberalismo e do modelo de agricultura
industrial promovido pelas instituições financeiras internacionais (Banco
Mundial, Fundo Monetário Internacional, Organização Mundial do Comércio), os
tratados de livre comércio, o Conselho Mundial da Água, as multinacionais e a
maioria dos governos.
A economia verde é uma falsa
solução frente às mudanças climáticas e à escassez da água. A mercantilização
da água, do carvão, da biodiversidade, os OGM, as nanotecnologias e a
geoengenharia são as novas saídas e propostas do neoliberalismo para responder
às crises. A evasão crescente continua enquanto estas respostas tecnicistas e
mercantis são as principais responsáveis pelo caos ecológico e social que nos
atinge.
O modelo de produção industrial,
as monoculturas e a agroquímica têm contaminado nossas águas, pondo em perigo
nossa saúde. Defendemos as práticas agroecológicas e a agricultura camponesa,
que levam à prática a soberania alimentar e contribuem com a preservação e a
utilização sustentável da água.
A água é um bem comum em
benefício de todos os seres vivos, e deve ser submetida a um gerenciamento
público, democrático, local e sustentável. Os conhecimentos locais e
tradicionais de gerenciamento da água, que protegem e consideram o ecossistema
em sua totalidade, existem desde sempre. Eles são testemunhas atemporais de sua
eficácia. As políticas públicas e as leis sobre a água devem reconhecer e
respeitar esses conhecimentos.
Pela soberania alimentar: Parem
com a apropriação da água!
Marseille, França, 18 de Março de
2012.
Fonte:
SÍTIO
BRASIL DE FATO. Parem com aapropriação da água! 22/03/2012. Online. Disponível em: http://brasildefato.com.br/node/9128
Capturado em 24/03/2012.
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