segunda-feira, 6 de agosto de 2012

09 DE AGOSTO COMPLETA 17 ANOS DE INJUSTIÇAS COMETIDA PELO PODER DO ESTADO DE RONDÔNIA (MASSACRE DE CORUMBIARA)

Texto de Valdir Fernandes (Taffarel) - SEGUNDA-FEIRA, 6 DE AGOSTO DE 2012
Secretário do Instituto Adelino Ramos (INFCAR)



17 anos de injustiça.
Era dia 09 de Agosto de 1995. Cidade de Corumbiara, Estado de Rondônia, Brasil. Os sem terras estavam acampados na Fazenda Santa Elina, com suas famílias, amigos e companheiros. A polícia, o judiciário e o governo do estado, estavam organizados para ‘atacar’ os invasores.
Tudo acertado para se fazer a operação militar, e o comandante da tropa, procurava ludibriar os sem terras para ‘ganhar’ tempo ou para ‘enrolar’ os ocupantes e preparar o verdadeiro genocídio, que marcou a história do Brasil e a luta pela terra.
Vários policiais militares, jagunços e muitos infiltrados, se armaram com armas de fogo, fizeram o cerco e aguardavam a ordem para ‘liquidar’ com os sem terras. Pela covardia, que deve ser a marca da polícia de Rondônia, prepararam o dito ‘ataque’ na madrugada, para não dar chance aos sem terras de se protegerem ou de reagirem.
Dada a voz de comando, os policiais, jagunços e os infiltrados, começa a se aproximar do acampamento. Os sem terras perceberam a chegada da polícia e ao primeiro grito de socorro, ouvem-se tiros e mais tiros. Foi à verdadeira covardia!
A policia invade o acampamento, atira para todos os lados e sem pudor. Saldo, 11 sem terras mortas, incluindo uma menina de sete anos, de nome Vanessa, que ao susto dos tiros, levanta-se e tenta fugir. Além dos 11 sem terras, dois policiais são encontrados mortos.
Como sempre a mídia tenta desconstruir, mas o movimento católico, o movimento sindical rural e as famílias que estavam acampadas clamaram por socorro e assim que os primeiros integrantes de movimentos de direitos humanos chegam a Corumbiara, percebem a desgraça que a polícia fez.
Alem das mortes já certas no acampamento, alguns são recolhidos para o hospital de Vilhena, Porto Velho. Entre os socorridos estavam Claudemir Gilberto Ramos, um dos que sobreviveram e sua vida só foi salva, graças a CUT Rondônia, que juntamente com o então presidente Vicentinho, solicitou que retirassem Claudemir da cidade, para não ser morto.
Passado dias do massacre, a apuração e investigação do Massacre de Corumbiara, foi feito pela Polícia Militar e o resultado não podia ser outro, policiais absolvidos e os sem terras condenados. A comissão pastoral da terra e outras entidades solicitaram um novo julgamento e o resultado, o mesmos, policiais absolvidos e os sem terras condenados.
O movimento pelos direitos humanos recorreu do julgamento à corte da Organização dos Estados Americanos (OEA) que se prontificou fazer uma nova investigação e entregou ao governo brasileiro, à época FHC, solicitando um novo julgamento, que prontamente o governo se negou.
Não havendo mais como recorrer à justiça, o Deputado Federal, João Paulo Cunha, protocolou um projeto de lei, solicitando Anistia Política aos dois únicos sem terras condenados, Claudemir Gilberto Ramos e Cícero Pereira. O projeto tramita na câmara dos deputados em Brasília.
Enquanto isso já se passou 17 anos do Massacre e para lamentar a inoperância do governo, o pai de Claudemir foi assassinado por jagunços, no dia 27 de maio de 2011. O suposto matador foi preso, solto e assassinado e o caso foi arquivado pela justiça de Rondônia.
Agora no dia 09 de Agosto de 2012, o que nos resta? A justiça? A reparação?! A terra?!


O massacre de Corumbiara mostra que o conflito na fazenda Santa Elina tem as mesmas características de milhares de conflitos por terra que aconteceram e acontecem no Brasil, e que o massacre de Corumbiara tem a mesma gênese de tantos outros massacres acontecidos contra camponeses, posseiros e índios ao longo de quinhentos anos de luta pelo acesso e posse à terra, evidenciando que o país ainda não resolveu sua questão agrária.
Na apuração dos fatos, nos processos judiciais e no júri, ficou evidenciado que os camponeses é que pagaram muito caro por terem sonhado com o acesso à terra e por terem ido à luta para concretizar aquele sonho, que, afinal, é o sonho de milhares de sem terra. Ninguém foi responsabilizado pelas torturas que aquelas pessoas sofreram, os órfãos e as viúvas estão desamparadas, existe gente desaparecida até hoje e muitos trabalhadores estão debilitados física e emocionalmente, por sequelas causadas pelos maus tratos recebidos durante a desocupação da fazenda Santa Elina.

Fonte: CORUMBIARA: O MASSACRE DOS CAMPONESES. RONDÔNIA/BRASIL 1995. Disponível em: http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn119-41.htm 

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