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| Teremos entrado num túnel do tempo? A retórica é a mesmíssima dos tempos de Médici
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Primeiramente, os presidentes dos Clubes das três Armas lançaram um pomposo 
Manifesto Interclubes,  exigindo que a presidente Dilma Rousseff, comandante em chefe das  Forças Armadas (à qual o trio deve obediência), desautorizasse duas de  suas ministras. Vide 
aqui.
 
Depois,  convencidos pelos ministros militares a respeitarem a hierarquia, os  insubmissos recuaram: colocaram uma retratação no ar e, pouco depois,  deletaram tudo, dando por encerrado o assunto. Vide
 aqui.
Agora, no site do torturador-símbolo do Brasil Carlos Alberto Brilhante Ustra (o único com  
registro em carteira, já que foi declarado torturador pela 23ª Vara Cível de São Paulo...), os totalitários contra-atacam com um  
alerta à Nação: 
"Eles que venham. Por aqui não passarão!". Vide 
aqui.
É a História se repetindo como farsa: soa muito mal, na boca dos herdeiros políticos do  generalíssimo   Francisco Franco, a célebre expressão com que Dolores Ibarrurí, a  Pasionária, exortava o povo espanhol a resistir aos fascistas na década  de 1930.
"Este  é um alerta à Nação brasileira, assinado por homens cuja existência foi  marcada por servir à Pátria", começa o papelucho de 2012, para logo  enveredar por delírios megalomaníacos:
"São  homens que representam o Exército das gerações passadas e são os  responsáveis pelos fundamentos em que se alicerça o Exército do presente".
Traduzindo: eles são (*)  os representantes daquele Exército que conspiradores contumazes,  acumpliciados com uma potência estrangeira, conseguiram arrastar em 1964  para uma aventura golpista, cuja consequência foi a imposição de uma  ditadura bestial e de um bestial terrorismo de estado aos brasileiros.
UNIFORMES HERÓICOS x FARDAS EMPORCALHADAS
 
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| Brilhante Ustra parece aguardar os aplausos por sua nova obra...
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A afirmação de que o Exército do presente se  fundamenta no golpismo e no totalitarismo deveria ser repudiada  firmemente pelos militares atuais --os que vieram depois das trevas e  não têm esqueletos no armário. Eles têm é de orgulhar-se de vestirem o  uniforme de Carlos Figueiredo e Roberto dos Santos, os heróis da Estação  Antártica Comandante Ferraz; não o de Brilhante Ustra, aquele que  “emporcalhou com o sangue de suas vítimas a farda que devera honrar”,  segundo a frase imortal do ex-ministro da Justiça José Carlos Dias.
 
Na  prática, trata-se de um manifesto subscrito por 13 generais, 6 tenentes  coroneís, 73 coronéis, 2 capitães de mar e guerra, 1 capitão de  fragata, 1 major e 1 tenente.
É  muita pretensão uma centena de oficiais em pijama se declararem  depositários dos valores em que se alicerça o Exército. E bizarro a  lista incluir três representantes... da Marinha! 
Mas, como a lógica anda meio distante dos antros das viúvas da ditadura, eles também se proclamam porta-vozes do Clube Militar:
"Em  uníssono, reafirmamos a validade do conteúdo do Manifesto publicado no  site do Clube Militar, a partir do dia 16 de fevereiro próximo passado, e  dele retirado, segundo o publicado em jornais de circulação nacional,  por ordem do Ministro da Defesa, a quem não reconhecemos qualquer tipo  de autoridade ou legitimidade para fazê-lo... O Clube Militar não se  intimida e continuará atento e vigilante".
Como  a relação de signatários não inclui o presidente do Clube Militar,  Renato Cesar Tibau da Costa, devemos supor que ele haja sido destituído?  Ou os 97 estão falando em nome do Clube sem nenhuma delegação formal  para o fazer? E desde quando três marujos são porta-vozes do clube do  Exército?
O  principal, claro, é a quebra da hierarquia, à qual, mesmo na reserva,  eles continuam submetidos, segundo seu regimento disciplinar. Cometem,  portanto, a mais crassa indisciplina ao confrontarem seus superiores  supremos: o ministro da Defesa e a presidente da República. São estes os  "fundamentos em que se alicerça o Exército do presente"?!
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| O objetivo último das escaramuças, todos sabemos qual é...
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Além de contestarem os dirigentes e as políticas do  Executivo, eles também insurgem-se contra as decisões do Congresso  Nacional, ao qualificarem a instituição da Comissão da Verdade de "ato  inconseqüente de revanchismo explícito e de afronta à lei da Anistia com  o beneplácito, inaceitável, do atual governo".
 
Se  1985 significou alguma coisa, foi que não existe mais tutela fardada  sobre os Poderes da República. É totalmente inaceitável a pretensão  desses nostálgicos do arbítrio, de quererem impedir com ultimatos  velados o resgate da verdade histórica --objetivo real da Comissão,  destituída de autoridade para remeter os assassinos, torturadores,  estupradores e ocultadores de cadáveres aos tribunais, como vem  ocorrendo em países com tolerância menor ao despotismo e à barbárie.
Cabe  agora ao Ministério da Defesa tomar as atitudes cabíveis para fazer a  hierarquia das Forças Armadas voltar a ser respeitada.
Trata-se, evidentemente, de uma provocação. Mas, reagindo estritamente à transgressão disciplinar, Celso Amorim ganhará a parada.
Oficiais  militares são extremamente avessos às quebras de hierarquia, pois temem  vir a ser eles próprios desacatados pelos subalternos. Não apoiarão a  bravata inconsequente desses gatos pingados, ainda mais por eles estarem  agindo em causa própria e não em defesa da corporação: inquietam-se,   sobretudo, com o que possa vir à tona a seu próprio respeito.
Poderá também conferir no Original:
Postado por Celso Lungaretti às 10:58