Parte
do texto extraído da Tese de Doutorado de Helena Angélica de Mesquita
intitulado de: Corumbiara: o Massacre dos
Camponeses. Rondônia, 1995. 2001. Tese (Doutorado em Geografia Humana) FFCLH/USP.
São Paulo.
O
Conflito da Fazenda Santa Elina
No
dia 14 de julho de 1995, centenas de famílias de trabalhadores rurais sem terra
ocuparam uma pequena parte dos 20.000 hectares da Fazenda Santa Elina, no
município de Corumbiara. Ao amanhecer do dia 15 de julho o acampamento era uma
realidade. Nascia rapidamente um espaço de esperança. Como era uma área de
mata, os camponeses construíram os barracos sob as árvores mais altas para
proteger a pequena cidade de lona dos constantes voos de intimidação praticados
por fazendeiros e policiais. O acampamento ficava separado do Assentamento
Adriana por um riacho de águas límpidas. Neste assentamento os camponeses
encontraram apoio e solidariedade, e lá pretendiam se refugiar em caso de cerco
ao acampamento. Cuidados vãos, pois não tiveram a mínima chance; o cerco
aconteceu de madrugada, quando todos estavam desmobilizados. A ocupação da
Fazenda Santa Elina foi mais um dos 440 conflitos por terra que ocorreram no
Brasil em 1995 e um dos 15 que aconteceram só em Rondônia naquele ano (dados da
Comissão Pastoral da Terra).
No
processo de reintegração de posse e no “despejo” dos posseiros, no dia 9 de
agosto de 1995, os posseiros foram sistematicamente torturados. Sabe-se que o
crime de tortura é inafiançável e imprescritível, no entanto tal crime não foi
tema considerado no processo, assim como não o foi também no júri. Os policiais
só foram a júri responsabilizados por três mortes, pois o juiz de Colorado do
Oeste, na sentença de pronúncia, achou que não poderia imputar a ninguém a
responsabilidade pelas mortes que ocorreram em “fogo cruzado”. Entretanto, este
mesmo juiz mandou a júri os dois sem terra acusados da morte dos dois policiais
que também morreram no fogo cruzado. Para fazer cumprir a liminar de manutenção
de posse, a polícia teve o financiamento dos fazendeiros Antenor Duarte do Vale
e Hélio Pereira de Morais, o último, proprietário da fazenda Santa Elina. Eles
forneceram homens, veículos, alimentação, transporte de tropas e armas. Foi uma
empreitada privada, feita de forma intempestiva, inconsequente e criminosa e
que, no final, quem acabou sofrendo as piores consequências foram os próprios
camponeses sendo, inclusive, condenados pelo júri.
A
sociedade brasileira não encontrará a paz enquanto a violência continuar
impune. Mas os camponeses não se calarão enquanto as elites continuarem
intransigentes com relação à terra. Por isso mesmo, nem um ano depois, outra
Corumbiara aconteceu no governo social democrata (na verdade neoliberal) de
FHC: Eldorado dos Carajás.
Fonte: MESQUITA,
H. A. Corumbiara: o Massacre dos Camponeses. Rondônia, 1995. 2001. Tese
(Doutorado em Geografia Humana) FFCLH/USP. São Paulo. Acesso em: http://revista.fct.unesp.br/index.php/pegada/article/viewfile/887/905
Para saber mais
sobre o caso leia:
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