sexta-feira, 3 de julho de 2015

09 DE AGOSTO 20 ANOS DO MASSACRE DE CORUMBIARA




Parte do texto extraído da Tese de Doutorado de Helena Angélica de Mesquita intitulado de: Corumbiara: o Massacre dos Camponeses. Rondônia, 1995. 2001. Tese (Doutorado em Geografia Humana) FFCLH/USP. São Paulo.

 

O Conflito da Fazenda Santa Elina

 

No dia 14 de julho de 1995, centenas de famílias de trabalhadores rurais sem terra ocuparam uma pequena parte dos 20.000 hectares da Fazenda Santa Elina, no município de Corumbiara. Ao amanhecer do dia 15 de julho o acampamento era uma realidade. Nascia rapidamente um espaço de esperança. Como era uma área de mata, os camponeses construíram os barracos sob as árvores mais altas para proteger a pequena cidade de lona dos constantes voos de intimidação praticados por fazendeiros e policiais. O acampamento ficava separado do Assentamento Adriana por um riacho de águas límpidas. Neste assentamento os camponeses encontraram apoio e solidariedade, e lá pretendiam se refugiar em caso de cerco ao acampamento. Cuidados vãos, pois não tiveram a mínima chance; o cerco aconteceu de madrugada, quando todos estavam desmobilizados. A ocupação da Fazenda Santa Elina foi mais um dos 440 conflitos por terra que ocorreram no Brasil em 1995 e um dos 15 que aconteceram só em Rondônia naquele ano (dados da Comissão Pastoral da Terra).

No processo de reintegração de posse e no “despejo” dos posseiros, no dia 9 de agosto de 1995, os posseiros foram sistematicamente torturados. Sabe-se que o crime de tortura é inafiançável e imprescritível, no entanto tal crime não foi tema considerado no processo, assim como não o foi também no júri. Os policiais só foram a júri responsabilizados por três mortes, pois o juiz de Colorado do Oeste, na sentença de pronúncia, achou que não poderia imputar a ninguém a responsabilidade pelas mortes que ocorreram em “fogo cruzado”. Entretanto, este mesmo juiz mandou a júri os dois sem terra acusados da morte dos dois policiais que também morreram no fogo cruzado. Para fazer cumprir a liminar de manutenção de posse, a polícia teve o financiamento dos fazendeiros Antenor Duarte do Vale e Hélio Pereira de Morais, o último, proprietário da fazenda Santa Elina. Eles forneceram homens, veículos, alimentação, transporte de tropas e armas. Foi uma empreitada privada, feita de forma intempestiva, inconsequente e criminosa e que, no final, quem acabou sofrendo as piores consequências foram os próprios camponeses sendo, inclusive, condenados pelo júri.

 

A sociedade brasileira não encontrará a paz enquanto a violência continuar impune. Mas os camponeses não se calarão enquanto as elites continuarem intransigentes com relação à terra. Por isso mesmo, nem um ano depois, outra Corumbiara aconteceu no governo social democrata (na verdade neoliberal) de FHC: Eldorado dos Carajás.

 

Fonte: MESQUITA, H. A. Corumbiara: o Massacre dos Camponeses. Rondônia, 1995. 2001. Tese (Doutorado em Geografia Humana) FFCLH/USP. São Paulo. Acesso em: http://revista.fct.unesp.br/index.php/pegada/article/viewfile/887/905

  

Para saber mais sobre o caso leia:
















 


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